Conheci a mulher da minha vida. Pra hoje não,
que tô cansado demais, e minha única companhia vai ser o controle remoto, um
pote de pipocas e minha mão dentro da cueca. Mas pra semana que vem, quem sabe,
quando eu tiver a fim de dar umazinha e com um tédio da vida, daí vai vê ela
pode servir pro momento, ou tomar alguma atitude inesperada de vadia
desvairada, ou mulher independente e indiferente que a faça subir no meu
conceito. Depois do sexo, é claro.
Ela é praticamente perfeita, cara. Daí você pode
estar se questionando, ou com uma puta vontade de me perguntar, por que é que
eu rejeito chamadas, não respondo essas mensagens e tento ao máximo me encher
de programas entre os amigos? Não, te juro que ela não é um canhão. Aliás, bem
pelo contrário. Uma baita gostosa. Pernão, cintura fina, boa de sutiã, e
aparentemente, boa sem também. Cabelo natural, daqueles que dá vontade de ficar
cheirando e passando a mão o tempo inteiro. E uma boca graúda, miudinha, mas
quando com batom me dá aquela vontade de tirar inteiro, pra desarrumar um
pouquinho tanta vaidade. É gata, tô te falando. O pior: o negócio é mais
complexo do que comer e largar fora, entende. Ela se dedica a me mostrar o
melhor dela, e em ser especial, única.
Ainda é inteligente. Se esforça no curso que tá
terminando, trabalha e faz tudo isso sozinha, dirigindo pela cidade o carrinho
pequeno e popular que os pais deram. Nunca repetiu no colégio, passou de
primeira no vestibular e faz as palavras cruzadas de manhã, comendo iogurte
logo depois de lamber a tampa. Não me liga a cobrar, e nem a toda hora. E
brother, ela entende ainda aquelas nossas figuras de linguagem, e ironias. Faz
piadas nos momento adequados, e com a dose certa de humor - nem querendo bancar
a palhaça desesperadamente, e nem com o ar arrogante dos pessimistas. Corre no
calçadão um dia sim e outro não, e tem um puta gosto musical. Entende de
música, assim como compreende todo o resto de um mundo que eu desconhecia até
então. Lava a louça depois do jantar, mija de porta fechada, e toma cerveja.
Cara, ela toma cerveja! Ponto positivo, eu sei. Além de, não ser fresca para
comer. Gosta de tudo, menos de tomate - assim como eu; olha que coincidência.
Me arriscaria até mesmo a dizer que, se fosse em outra vida, ela era mesmo a
mulher com quem eu envelheceria do lado, e teria netinhos, e todas aquelas
pieguices que a gente quer, e no fundo nem deixa claro.
E então, aqui estou eu, te contando que me
policio pra não atender esse mulherão em potencial, e me vigiando pra não
encher demais a bola da musa, e sim, correr da esfinge. Seria completamente
melhor estar agora do lado de uma lady, bebendo cerveja, vendo filmes de ação
(que ela também adora), fazendo sexo e admirando o corpo violão que ela
tem. Ela é gente fina, gostosa, engraçada e inteligente. Só tem um defeito
que vale por tantas boas qualidades: gosta demais de mim. Gosta tanto que me
deixa livre, e desimpedido, apenas conhecedor do sentimento que ela nutre pela
minha pessoa desprezível, quiçá esperando que eu tenha um pouquinho de decência
e me apaixone por ela de volta também. E não consigo, não rola. Tento, e falta
algo, um quê a mais, uma loucura que ela cometa e me faça identificar os
possíveis futuros sinais de felicidade, ou um sumiço que me faça se tocar:
olha, até sinto sua falta. Mas não. Ela está ali, sempre quando preciso, e eu
não quero ir adiante porque eu sei que o estrago será grande. E que minha
mediocridade é grande demais pra todo o talento que ela tem para ser a melhor
mulher do mundo. Por isso é que repasso a ficha, devolvo a carta ao baralho.
Ela é mulher demais pra mim, enquanto eu sou homem de menos pra ela. E a única
pessoa que não se tocou disso ainda é a musa, a bela. Quem sabe o silêncio a
avise, cara. Tenho total ciência de ser mesmo um ridículo, um babaca, um
idiota. Burro, eu sei. Até pra filho da puta acho que sirvo. Não sei nem ao
menos gostar de quem gosta de mim, porque no momento só sei gostar mesmo é de
mim mesmo, e do meu ego mal massageado. Ela que é a mulher certa, na minha hora
que é sempre a errada. Espero que ela entenda, e não me odeie. Não pra sempre.
Mas ó: é gostosa, hein.
Créditos: http://calmila.blogspot.com/2010/11/conheci-mulher-da-minha-vida.html#ixzz15mfeHJ7K
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